“Maré” é talvez o disco mais conceitual da cantora. Além do que é óbvio, visto que a própria cantora alegou este ser uma continuação “2 de 3” do seu clássico “Marítimo” (1998), o disco ostenta, da primeira à última faixa uma proposta bem definida. Se despindo de tecnologias e do equílibrio entre o eletrônico e o orgânico que conseguira atingir na primeira parte de sua trilogia, “Maré” se sustenta no violão de Adriana, instrumento que tem sob seus pés os arranjos de quase todas as canções. O que se vê ao longo das 11 faixas e de seus pouco mais que 34 minutos de música, é um som maduro, complexo e denso concomitante ao que Calcanhotto herdou de inocência de seus últimos projetos. E a poesia sempre inerente de Adriana, seja de autoria da própria ou de outros de quem ela pega emprestada a voz, como Waly Salomão, Cazuza e Ferreira Gullar. Harmonias densas como na faixa título, e em “Teu Nome mais Secreto”, soam harmônicas à cantiga de roda de “Um Dia Desses”, cuja melodia é de autoria do famoso produtor do Los Hermanos, Kassin (sabia que não era coincidência a música soar como deles), com letra do saudoso Torquato Neto, e da brincadeira lúdica de “Porto Alegre” dos deliciosos versos “só sei dançar ao ritmo de calypso...”, que remetem a vocês sabem-muito-bem-o quê. Aliás, essa canção conta com a participação da maravilhosa voz que vocês todos já conhecem da Marisa Monte, no papel, uh-la-lá, de Sereia.

Ainda que contenha apenas 4 faixas da autoria da cantora, o disco representa de forma forte e essencial o que a Adriana é capaz de produzir e porque se tornou um nome tão cultuado entre os apreciadores da boa Mpb: é fiel aos seus princípios estético-musico-conceituais, e sempre, ou quase sempre, é dona de uma coerência e visão artística únicas. Coisa que falta por “aew”, nessa Mpb moderninha...

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